O processo de alfabetização infantil é uma jornada fascinante, marcada por diversas etapas que refletem o desenvolvimento cognitivo das crianças.
Uma fase especialmente crucial é a transição do nível silábico para o silábico-alfabético.
Neste estágio, os pequenos enfrentam desafios significativos ao tentar conciliar a compreensão das sílabas com a necessidade de expandir a quantidade de letras nas palavras.
Leia também nível alfabético , silábico e pré silábico
Este artigo pretende aprofundar-se nesse tema, explorando as características desse período e oferecendo uma análise mais abrangente das estratégias pedagógicas que podem ser implementadas.
DESENVOLVIMENTO:
No nível silábico-alfabético, as crianças encontram-se em um momento de transição onde a leitura convencional parece um desafio intransponível.
Elas acreditam que há um excedente de letras nas palavras quando comparado aos sons emitidos na fala.
Esse conflito entre a escrita convencional e a abordagem silábica é uma fonte de reflexão, servindo como um ponto de virada para a busca por uma solução.
As crianças neste estágio aumentam o número de letras em suas escritas de duas maneiras principais: ou retornam a escrever com muitas letras e de forma aleatória, abandonando a hipótese silábica, ou continuam escrevendo silabicamente, adicionando letras no final da palavra de maneira arbitrária.
Esses comportamentos podem confundir os professores e alfabetizadores, que precisam estar atentos para entender e analisar essas situações complexas.
O conflito entre a hipótese silábica e a exigência de uma quantidade mínima de letras é evidente.
As crianças, ao tentarem resolver essa discordância, podem criar soluções parciais.
Elas começam a perceber que a sílaba não pode ser considerada como uma unidade isolada, mas sim composta por elementos menores, as letras.
Isso introduz novos desafios quantitativos, pois uma única letra não pode ser considerada uma sílaba quando há sílabas com mais de uma letra.
Surge, então, a necessidade de aumentar o número de letras por sílaba, muitas vezes sem critérios claros.
No eixo quantitativo, as crianças também descobrem que a identidade do som não garante a identidade das letras, e vice-versa.
Letras podem ter a mesma grafia, mas representar diferentes sons, adicionando uma camada de complexidade à relação entre grafia e fonética.
Elas percebem que sons idênticos podem ter grafias diferentes e que, na maioria das vezes, não se pronuncia o que está escrito, nem se escreve exatamente o que se fala.
Além disso, as crianças, ao procurarem acrescentar letras à escrita da fase anterior (silábica), passam a grafar algumas sílabas completas e outras incompletas, utilizando tanto as hipóteses do nível silábico quanto do silábico-alfabético simultaneamente.
Essa simultaneidade de abordagens reflete a complexidade do processo de transição e a necessidade de integrar diferentes estratégias de aprendizagem.
É importante ressaltar que a ausência de letras em sua escrita não deve ser interpretada como omissão ou retrocesso, mas sim como uma progressão nos níveis conceituais.
As crianças, neste estágio, muitas vezes enfrentam dificuldades na leitura e escrita de palavras que começam com vogais, recorrendo, por vezes, à inversão das letras, tanto na leitura quanto na escrita.
APRENDIZAGEM CONTEXTUALIZADA:
Em todo o processo de alfabetização, a contextualização é fundamental.
Todas as atividades de leitura e escrita propostas aos alunos devem estar associadas a uma significação, conectadas aos aspectos da vida das crianças ou às atividades realizadas em sala de aula e em casa. Jogos, brincadeiras, rodas de conversa, troca de ideias entre os alunos, e até mesmo uma dose saudável de competição podem transformar a aprendizagem em um processo de construção ativa do conhecimento pelas crianças.
ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS E SUGESTÕES DE ATIVIDADES:
Para lidar com as complexidades do nível silábico-alfabético, é crucial que os professores implementem estratégias pedagógicas adaptadas. Diversas atividades podem ser incorporadas para promover o desenvolvimento cognitivo e a compreensão eficaz por parte das crianças. Algumas sugestões incluem:
Jogos e Atividades com Alfabeto Móvel e Sílabas Móveis: Utilizar recursos visuais e táteis para explorar as relações entre letras e sílabas.
Caça-Palavras e Cruzadinhas: Estimular a identificação de palavras e sílabas de forma lúdica.
Jogos de Memória, Bingo e Dominós Diversos: Reforçar a associação entre sons, letras e sílabas.
Leitura e Interpretação Oral de Diferentes Textos: Expor as crianças a uma variedade de textos para desenvolver a compreensão e interpretação.
Produção de Textos Coletivos: Estimular a expressão escrita de forma colaborativa.
Adivinhações, Trava-línguas, Quadrinhas e Anedotas: Explorar a linguagem de maneira lúdica e desafiadora.
Listas, Anúncios, Propagandas: Analisar e criar diferentes tipos de textos, incentivando a síntese de palavras significativas.
Escritas Espontâneas e Autoditado: Encorajar a produção escrita sem restrições, permitindo a expressão livre.
Leitura de Livrinhos de Literatura, Jornais e Revistas: Introduzir diferentes gêneros textuais para ampliar o repertório de leitura.
Classificação e Seriação de Palavras: Desenvolver a capacidade de organizar e categorizar palavras.
Recortes, Dobraduras, Pinturas, Encaixes: Explorar diferentes formas de expressão e vocabulário através de atividades práticas.
Oficina de Histórias, Reconto, Reescrita: Estimular a criatividade e a compreensão textual por meio da criação e reelaboração de narrativas.
Diálogos, Entrevistas e Reportagens: Integrar situações cotidianas para desenvolver habilidades de comunicação escrita.
Transcrição de Receitas, Brincadeiras, Piadas: Envolver as crianças na transcrição de diferentes tipos de textos, ampliando a exposição a diferentes estilos e estruturas linguísticas.
Recorte de Figuras ou Palavras para Montagem de Álbuns ou Dicionários: Promover a construção de recursos visuais que auxiliem no processo de aprendizagem.
Recontar Vídeos, Excursões, Experiências: Estimular a habilidade de transpor experiências vivenciadas para o meio escrito.
Reestruturar Frases de Poesias, Parlendas ou Músicas: Desenvolver a capacidade de compreender e manipular estruturas linguísticas mais complexas.
Localizar Palavras num Texto, Copiá-las Separando Suas Sílabas num Diagrama: Reforçar a relação entre a escrita e a identificação de sílabas.
A transição para o nível silábico-alfabético na alfabetização é, sem dúvida, uma fase desafiadora, repleta de conflitos e descobertas. Compreender as características desse estágio é crucial para os educadores, que desempenham um papel vital no apoio aos alunos durante essa transição.
O conflito entre a hipótese silábica e a necessidade de mais letras revela a complexidade da aquisição da linguagem escrita.
As crianças, ao enfrentarem esses desafios, estão, na verdade, avançando nos níveis conceituais, integrando diferentes estratégias de aprendizagem.
Ao implementar atividades contextualizadas e diversificadas, os educadores podem criar um ambiente propício para o desenvolvimento da leitura e escrita.
O uso de jogos, interações sociais, e a exploração de diferentes gêneros textuais contribuem para uma aprendizagem mais significativa e autônoma.
Portanto, é imperativo que os educadores estejam cientes das características do nível silábico-alfabético e ofereçam suporte adaptado às necessidades individuais dos alunos.
Ao promover uma abordagem personalizada, os professores podem desempenhar um papel crucial na formação de habilidades de leitura e escrita duradouras, preparando as crianças para desafios mais avançados ao longo de sua jornada educacional.
A transição para o nível silábico-alfabético não é apenas uma superação de obstáculos, mas sim um salto em direção à compreensão mais profunda da linguagem escrita.
Ao incorporar estratégias pedagógicas eficazes e promover um ambiente de aprendizagem estimulante, os educadores contribuem significativamente para o desenvolvimento cognitivo e linguístico das crianças, preparando-as para o sucesso futuro.
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