A escrita e a leitura são habilidades fundamentais para o desenvolvimento cognitivo, social e cultural das crianças.
No entanto, aprender a ler e a escrever não é um processo simples e linear, mas sim uma construção gradual e complexa que envolve diferentes níveis de compreensão.
Neste artigo, vamos abordar o nível alfabético, que se caracteriza pelo reconhecimento do som da letra e pela adequação fonética do escrito ao sonoro.
Leia também nível silábico alfabético , silábico e pré silábico
Vamos ver quais são as características, os desafios e as estratégias para trabalhar com as crianças nesse nível de aprendizagem.
O QUE É O NÍVEL ALFABÉTICO?
O nível alfabético é o último estágio da evolução construtiva do aprendizado da leitura e da escrita, segundo a teoria de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky.
Nesse nível, a criança consegue estabelecer uma vinculação mais coerente entre a leitura e a escrita, compreendendo que cada um dos caracteres da escrita (letras) corresponde a valores sonoros menores que a sílaba.
A criança também reconhece os sons das letras e escreve do jeito que fala, dando ênfase à escrita fonética.
QUAIS SÃO OS DESAFIOS DO NÍVEL ALFABÉTICO?
Apesar de ter alcançado uma solução mais completa para a escrita e a leitura, a criança ainda não consegue resolver todos os problemas que se referem a essas habilidades, entre eles:
O primeiro problema que a criança enfrenta se refere aos tipos de sílabas. As crianças, de modo geral, generalizam que todas as sílabas têm sempre duas letras (isso se dá pela frequência de sílaba com duas letras na nossa escrita) e dificilmente concluem, automaticamente, que existem sílabas de uma, duas, três, quatro ou cinco letras. Devido à frequência de sílabas constituídas de consoante e vogal, os alunos acreditam que todas as sílabas são assim. Quando deparam com palavras ou sílabas iniciadas por vogais, fazem a inversão na escrita e também na leitura. Exemplo: ARVORE = RAVORE.
O segundo problema que as crianças vivenciam é a separação das palavras na produção de textos. Durante a escrita de textos espontâneos, as crianças ora emendam palavras, ora dividem palavras em duas ou três partes. Isso acontece porque, quando a criança escreve, concentra-se na sílaba; assim, as palavras tendem a desaparecer como um todo. Aparecem as primeiras junturas (quando a criança escreve várias palavras emendadas) e segmentações (quando a criança escreve separando, indevidamente, as palavras), muito comuns nas escritas dos alunos ao ingressarem no nível alfabético, e que, nesse nível, serão trabalhadas visando, desde já, a construção da base ortográfica.
O terceiro problema refere-se à ênfase sobre a escrita fonética. A criança, ao dar ênfase à escrita fonética, ou seja, a adequação fonética do escrito ao sonoro, enfrenta as questões ortográficas. Descobre que uma mesma letra pode ter som de outras letras, como, por exemplo, X com som de CH, S com som de Z etc., chegando a constatar que isso acontece em muitas palavras. Exemplo: chave, chaveiro, chácara, xícara, xale, Elisabete, roseira etc.
Por último, a criança enfrenta dificuldades na escrita e na leitura de sílabas complexas. A compreensão de grupos consonantais é fruto de muito esforço lógico de raciocínio e não de memorização ou fixação mecânica. A aquisição da base ortográfica envolve a inter-relação de componentes lógicos, perceptivos, motores, afetivos, sociais e culturais na aprendizagem.
COMO TRABALHAR COM AS CRIANÇAS NO NÍVEL ALFABÉTICO?
Para ajudar as crianças a superarem os desafios do nível alfabético, é preciso oferecer atividades que estimulem a reflexão sobre a língua escrita, a análise dos sons e das letras, a comparação entre palavras, a identificação de regularidades e irregularidades ortográficas, a segmentação e a pontuação de textos, a leitura com e sem imagem, a produção de textos variados, a revisão e a reescrita de textos, entre outras.
É importante também respeitar o ritmo e as hipóteses de cada criança, valorizando suas conquistas e orientando suas dificuldades.
O nível alfabético é uma etapa importante e desafiadora na aprendizagem da leitura e da escrita.
A criança que chega a esse nível já possui uma concepção mais avançada sobre o sistema de escrita, mas ainda precisa de orientação e apoio para desenvolver sua competência ortográfica e textual.
QUAIS SÃO AS DIFICULDADES DO NÍVEL ALFABÉTICO?
Algumas crianças chegam ao nível alfabético apresentando dificuldades, tais como:
alunos que leem alfabeticamente e ainda produzem escritas silábicas;
alunos que já escrevem quase alfabeticamente e não decodificam um texto convencional.
Isso acontece porque a leitura e a escrita não foram desenvolvidas, até então, de forma correlacionada durante o processo de aprendizagem.
O professor atento a essas dificuldades, que são normais no nível alfabético, propiciará aos alunos oportunidades para vincular as ações de ler e de escrever.
A possibilidade de exercê-las num mesmo contexto auxilia o domínio de ambas.
QUAIS SÃO AS ESTRATÉGIAS E AS ATIVIDADES PARA O NÍVEL ALFABÉTICO?
A prática de produção de textos é uma atividade essencial ao longo de todo o processo de alfabetização.
No nível alfabético, a criança já é capaz de escrever sozinho o seu próprio texto.
A produção de textos é uma atividade expressiva e criativa que envolve reflexão constante, uma reflexão lógica.
Essa reflexão é de suma importância em todas as ações inteligentes para decidir como se escrevem palavras cuja escrita não está memorizada.
A leitura de textos, por sua vez, envolve a seleção pelo professor dos tipos de textos que serão oferecidos aos alunos de primeira série ou pré-escolar, já alfabéticos, tendo em vista oferecer experiências múltiplas, concretas e reais com o verdadeiro uso da coisa escrita na vida de alguém.
A produção de textos pode ser individual ou coletiva. O importante é que a criança de primeiro ano leia e escreva muito, e que todas as suas produções sejam muito valorizadas pelo professor e outros.
Cada criança escreve do seu jeito e não há “certo” ou “errado” neste momento. O texto produzido pelo aluno é como um desenho ou qualquer outra forma de manifestação expressiva.
Não cabe, absolutamente, qualquer forma de correção ou de modificação. A correção deverá vir em outro momento planejado pelo professor para as devidas correções.
Esses textos são um indicador valioso sobre o andamento do processo de aprendizagem dos alunos.
Eles fornecem dados que poderão ser utilizados em outras atividades de escrita.
É preciso que, em alguns momentos, o professor se torne o escriba da turma, porque é indispensável para o aluno poder perceber atos de escrita de pessoas alfabetizadas, sejam na escrita de textos, palavras ou letras.
Isso possibilita ao aluno a análise de aspectos espaciais e motores envolvidos, bem como a direção que se segue ao escrever (da esquerda para a direita), os tipos de sinais gráficos utilizados (letras, sinais de pontuação), tipos de letras e suas modalidades, a ortografia das palavras, como também observar que se escrevem tudo (e não só os substantivos).
É importante que o professor leia o texto escrito para as crianças, apontando, com uma régua, o que está lendo.
Os textos são trabalhados em sala de aula para serem analisados nos dias subsequentes à sua produção.
Nesse sentido, devem ser expostos na parede, para visualização dos alunos. Poderão ser transcritos para os alunos, que os utilizarão em inúmeras atividades e explorações didáticas.
O nível alfabético é uma etapa importante e desafiadora na aprendizagem da leitura e da escrita.
O TRABALHO COM SÍLABAS NO NÍVEL ALFABÉTICO
A sílaba é uma unidade sonora que compõe as palavras. No nível alfabético, a criança compreende que cada letra corresponde a um som e que as sílabas são formadas pela combinação desses sons.
COMO TRABALHAR COM SÍLABAS NO NÍVEL ALFABÉTICO?
A criança começa a construção da sílaba desde o nível silábico, quando percebe que não pode ler o que foi escrito por ela.
Prossegue no nível silábico alfabético quando acrescenta letras nos seus escritos sem resolver o problema, que só vai ser superado com a escrita alfabética no nível alfabético.
A introdução sistemática das famílias silábicas não é o modo mais indicado para ajudar alunos alfabéticos a evoluir em suas concepções sobre a escrita.
É muito mais indicado encorajá-los a refletir sobre a pronúncia para pensar a escrita.
A percepção auditiva entra como matéria-prima em todo o trabalho de inteligência, e o fato de nossa língua não ser inteiramente fonética implica, subsidiariamente, uma elaboração mental dos elementos ouvidos para chegar à escrita.
Nesta proposta didática, sugere-se desenvolver um trabalho com sílabas começando pela sua identificação parcial, pelo desmembramento das palavras em todas as suas sílabas e pela montagem de palavras por meio de sílabas, só chegando às famílias silábicas através dos sons das letras.
O professor deve permitir ao aluno explorar ao máximo o mundo das palavras, das frases, dos textos e das letras, incentivando-o a extrair o máximo de conhecimentos por conta própria, e só entrar com a sistematização clássica se for necessário, e da forma mais construtiva possível, sem nenhuma ordenação de dificuldades.
QUAIS SÃO AS ATIVIDADES PARA O TRABALHO COM SÍLABAS NO NÍVEL ALFABÉTICO?
Algumas atividades que podem ser realizadas com os alunos para o trabalho com sílabas no nível alfabético são:
Identificar as sílabas que compõem as palavras, usando fichas, letras móveis, alfabeto mural, etc.
Classificar as palavras quanto ao número de sílabas (monossílabas, dissílabas, trissílabas, polissílabas).
Reconhecer as sílabas iniciais, finais e intermediárias das palavras.
Formar novas palavras a partir da troca, acréscimo ou retirada de sílabas.
Comparar palavras que possuem sílabas iguais ou diferentes, identificando as semelhanças e as diferenças sonoras e gráficas.
Segmentar e juntar sílabas para formar palavras.
Reconhecer as famílias silábicas a partir da análise das palavras.
Ler e escrever palavras com sílabas simples e complexas, observando as regularidades e as irregularidades ortográficas.
O TRABALHO COM LETRAS NO NÍVEL ALFABÉTICO
As letras são os elementos básicos da escrita alfabética. No nível alfabético, a criança reconhece os sons das letras e as combina para formar sílabas e palavras.
COMO TRABALHAR COM LETRAS NO NÍVEL ALFABÉTICO?
O trabalho com letras é feito desde o início da escolarização através dos níveis pelos quais a criança passa.
Esse trabalho é também indispensável no nível alfabético (mesmo com crianças já alfabéticas, isto é, que leem e escrevem alfabeticamente).
O professor deve permitir ao aluno explorar ao máximo o mundo das letras, das sílabas, das palavras e dos textos, incentivando-o a extrair o máximo de conhecimentos por conta própria, e só entrar com a sistematização clássica se for necessário, e da forma mais construtiva possível, sem nenhuma ordenação de dificuldades.
QUAIS SÃO AS ATIVIDADES PARA O TRABALHO COM LETRAS NO NÍVEL ALFABÉTICO?
Algumas atividades que podem ser realizadas com os alunos para o trabalho com letras no nível alfabético são:
Alfabetos variados (tamanho, forma de letra, material) para montagem de palavras ou frases mediante desafios interessantes do professor. Essa atividade permite que a criança reconheça as diferentes formas e tipos de letras, bem como sua ordem alfabética e sua correspondência sonora.
Num monte de letras, solicitar à criança que encontre todas as letras de seu nome. Separar as letras dos nomes dos colegas do grupo. Essa atividade permite que a criança identifique as letras que compõem seu nome e o dos outros, bem como sua posição e sua sonoridade.
Reescrever as palavras do álbum ou dicionário já montados nos níveis anteriores. Essa atividade permite que a criança revise as palavras que já conhece, bem como sua grafia e sua pronúncia.
Construir dados de letras (4 dados com as 26 letras do nosso alfabeto). Essa atividade permite que a criança brinque com as letras, formando sílabas e palavras aleatórias ou sugeridas pelo professor, bem como sua leitura e sua escrita.
Jogos industrializados ou criados pelos alunos e professor (inclusive de ordem ortográfica). Essa atividade permite que a criança se divirta com as letras, aprendendo sobre suas regras e suas exceções, bem como sua aplicação em diferentes contextos.
O trabalho com letras é uma parte essencial do processo de alfabetização.
No nível alfabético, a criança já possui uma concepção mais avançada sobre o sistema de escrita, mas ainda precisa de orientação e apoio para desenvolver sua competência fonológica e ortográfica.
Por isso, o papel do professor é fundamental para proporcionar situações significativas e diversificadas de leitura e escrita, que favoreçam a reflexão, a descoberta e a construção do conhecimento linguístico.
tenho total certeza que este blog ajuda muitos professores :] se eu fosse professora iria usar muitos metodos que a senhora escreve neste blog,alias o blog por sua vez, esta cada vez mais criativo, e lindo.Parabens! :]
ResponderExcluirbeijos angélica.
Muito bom!!
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